Dia da Terra - sugestões de leitura


 Dois poemas de Cecília Meireles:

No mistério do sem-fim
Equilibra-se um planeta
E, no jardim, um canteiro
No canteiro, uma violeta
E, sobre ela, o dia inteiro
A asa de uma borboleta

Canção da Tarde no Campo

Caminho do campo verde
estrada depois de estrada.
Cerca de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.

Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!

Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a tarde é minha.

Os meus passos no caminho
são como os passos da lua;
vou chegando, vai fugindo,
minha alma é a sombra da tua.

Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.

De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto,
meu peito é puro deserto.
Subo monte, desço monte.

Eu ando sozinha
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha

 

E também um livro a explorar:

 

O autor é um filósofo sul-coreano radicado na Alemanha e conhecido pela publicação de numerosos e incisivos ensaios, onde a presença da pessoa numa sociedade hiper-digitalizada é colocada em questão.

Louvor da Terra é um conjunto de breves meditações em torno de um jardim comunitário, onde os ritmos e caraterísticas de cada flor são registados pelo autor com uma atenção verdadeiramente oriental.
Há também espaço para rápidas reflexões ou chamadas de atenção para o nosso modo de viver ocidental, ruidoso, poluído e artificial.
Diz ele a certo passo: “A digitalização aumenta o ruído da comunicação. Não só acaba com o silêncio, mas também com o táctil, com o material, com os aromas, com as cores fragantes e, sobretudo, com a gravidade da terra. A palavra humano vem de húmus, terra. A terra é o nosso espaço de ressonância, que nos enche de felicidade. Quando abandonamos a terra, a felicidade abandona-nos
E ainda: “O trabalho de jardinagem foi para mim uma meditação silenciosa, um demorar-me no silêncio. (…) Quanto mais tempo trabalhava no jardim, mais respeito sentia pela terra e pela sua inebriante beleza. Tenho desde então a convicção profunda de que a terra é uma criação divina. (…) Algumas das linhas deste livro são preces, confissões, até mesmo declarações de amor à terra e à natureza.”

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